Acredita-se que a cadela Julie, 15 anos, tenha ido parar na rua após se perder do dono. Quando foi encontrada, no entanto, via-se que passara maus bocados. Com exceção da cabeça, quase não havia resquícios do pêlo curto e castanho pelo corpo por causa de uma alergia. A pequena e dócil cadela, que já não possuía o olho direito de nascença, não tinha a aparência das mais encantadoras ao chegar ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo. Tanto que era carregada, pelo homem que a encontrara, dentro de um saco plástico e mantendo distância de um metro. "Acho que é sarna", ele disse. Não era, sabia o funcionário que os atendera, Marcos Roberto Barreiros, 40. Sabia também que não poderia admitir a cadela no CCZ por ela ser saudável. Marcos ligou para a esposa: "Hoje vou levar uma pequena surpresa pra casa". Mal sabia Julie que tinha acabado de ser adotada pelo homem da carrocinha.
O homem da carrocinha é aquele que, no imaginário popular, laça os animais de rua para levá-los ao terrível destino do sacrifício e da fábrica de sabão. Na realidade, não se faz sabão com cachorros. Só são sacrificados os animais em muito sofrimento, que tenham atacado pessoas ou que não conseguiram nem ser resgatados pelo dono, nem adotados. O papel da carrocinha, digo, do CCZ, é muitas vezes tirar do perigo, cuidar, alimentar e encaminhar os animais para um lar. Marcos leva a função - cujo nome oficial é agente de zoonoses -, que exerce há seis anos, mais a sério. Enquanto a maioria dos funcionários do Centro de Zoonoses não resistiu em levar pelo menos um bicho para casa, ele adotou nove cachorros nos últimos cinco anos. Os animais de estimação vivem com Marcos, a esposa e suas três filhas em uma casa em Pirituba e chegam a consumir mais de um terço do seu salário em ração. Para compensar, o homem da carrocinha faz bicos como pedreiro e pintor no final de semana.
Julie adaptou-se tão bem à nova casa que até conquistou lugar cativo na dobra da perna de Marcos na hora de dormir. Só se indispõe de vez em quando na disputa pelo colo do dono com Princesa, a vira-lata com um quê de poodle que Marcos adotou seis meses antes. Princesa chegou ao CCZ junto com outros 34 cães apreendidos em um canil ilegal, a maioria deles das raças Llasa Apso, Poodle e Yorkshire. Ela, no entanto, tinha tamanho de uma raça, pêlo de outra, mas era SRD - sem raça definida. Além de tudo só conseguia andar em círculos, conseqüência da jaula muito pequena em que vivia. Ou seja, ficou pra trás e conquistou o homem da carrocinha.
O "critério" de adoção do agente de zoonoses - que já fez com que cerca de 200 outros animais fossem adotados no CCZ - não tem nada a ver com beleza, mas sim com a perspectiva do cão. Bolinha, que foi adotada por ele há três anos, não deixa mentir. A cadela baixinha e atarracada, de pêlo castanho e preto e prognata, foi encontrada por colegas de CCZ com 15 dias de vida e com fome. Como nenhuma das fêmeas do canil que adotá-la - e bicho que não consegue se alimentar acaba sendo sacrificado -, Marcos a acolheu e deu comida por conta-gotas. Lindinha, que foi encontrada na pista do aeroporto e está com a família há 3 anos e meio, é outro exemplo. Ela recebeu esse nome por bondade da filha menor, Carol. Até Marcos admite que a desengonçada cadela de pêlo raro, branco e cacheado era muito feia quando levou para casa.
Saúde também não é um dos pré-requisitos para Marcos. Dois de seus xodós morreram recentemente, embora ele se orgulhe-se de ter cuidado bem deles: os pinschers Tico, que tinha cinomose - "uma doença que ataca o sistema nervoso central" - , e Bob, que sofria de epilepsia. Até mesmo o rottweiler Toby, o primeiro dessa turma, nem sequer parecia ser dessa raça quando foi encontrado apático em uma praça. Com cerca de nove meses de idade, pesava no máximo 10 quilos. Tinha anemia, infecção na bexiga e nos rins e displasia e demorou um mês para se levantar. Para cuidar de todas essas doenças, o agente de zoonoses pede conselhos aos veterinários do CCZ. Toby hoje pesa mais de 60 quilos.
Só chegou à casa de Marcos bonita e saudável a vira-lata Nina, que tem jeitos de labrador bege claro. Ela foi herdada de um amigo que foi morar fora do país. Poupar um cão de sentir-se abandonado também é um bom motivo para adotar. Marcos tinha até se convencido a não levar nenhum outro animal para casa pra não sobrecarregar o orçamento familiar, mas há quatro meses achou uma filhote passando fome... "Fazer o quê?", diz Marcos escondendo um sorriso. O que é mais um latido na hora de distribuir a ração, sete da noite em ponto? Chamou-a de Maira.
O homem da carrocinha é aquele que, no imaginário popular, laça os animais de rua para levá-los ao terrível destino do sacrifício e da fábrica de sabão. Na realidade, não se faz sabão com cachorros. Só são sacrificados os animais em muito sofrimento, que tenham atacado pessoas ou que não conseguiram nem ser resgatados pelo dono, nem adotados. O papel da carrocinha, digo, do CCZ, é muitas vezes tirar do perigo, cuidar, alimentar e encaminhar os animais para um lar. Marcos leva a função - cujo nome oficial é agente de zoonoses -, que exerce há seis anos, mais a sério. Enquanto a maioria dos funcionários do Centro de Zoonoses não resistiu em levar pelo menos um bicho para casa, ele adotou nove cachorros nos últimos cinco anos. Os animais de estimação vivem com Marcos, a esposa e suas três filhas em uma casa em Pirituba e chegam a consumir mais de um terço do seu salário em ração. Para compensar, o homem da carrocinha faz bicos como pedreiro e pintor no final de semana.
Julie adaptou-se tão bem à nova casa que até conquistou lugar cativo na dobra da perna de Marcos na hora de dormir. Só se indispõe de vez em quando na disputa pelo colo do dono com Princesa, a vira-lata com um quê de poodle que Marcos adotou seis meses antes. Princesa chegou ao CCZ junto com outros 34 cães apreendidos em um canil ilegal, a maioria deles das raças Llasa Apso, Poodle e Yorkshire. Ela, no entanto, tinha tamanho de uma raça, pêlo de outra, mas era SRD - sem raça definida. Além de tudo só conseguia andar em círculos, conseqüência da jaula muito pequena em que vivia. Ou seja, ficou pra trás e conquistou o homem da carrocinha.
O "critério" de adoção do agente de zoonoses - que já fez com que cerca de 200 outros animais fossem adotados no CCZ - não tem nada a ver com beleza, mas sim com a perspectiva do cão. Bolinha, que foi adotada por ele há três anos, não deixa mentir. A cadela baixinha e atarracada, de pêlo castanho e preto e prognata, foi encontrada por colegas de CCZ com 15 dias de vida e com fome. Como nenhuma das fêmeas do canil que adotá-la - e bicho que não consegue se alimentar acaba sendo sacrificado -, Marcos a acolheu e deu comida por conta-gotas. Lindinha, que foi encontrada na pista do aeroporto e está com a família há 3 anos e meio, é outro exemplo. Ela recebeu esse nome por bondade da filha menor, Carol. Até Marcos admite que a desengonçada cadela de pêlo raro, branco e cacheado era muito feia quando levou para casa.
Saúde também não é um dos pré-requisitos para Marcos. Dois de seus xodós morreram recentemente, embora ele se orgulhe-se de ter cuidado bem deles: os pinschers Tico, que tinha cinomose - "uma doença que ataca o sistema nervoso central" - , e Bob, que sofria de epilepsia. Até mesmo o rottweiler Toby, o primeiro dessa turma, nem sequer parecia ser dessa raça quando foi encontrado apático em uma praça. Com cerca de nove meses de idade, pesava no máximo 10 quilos. Tinha anemia, infecção na bexiga e nos rins e displasia e demorou um mês para se levantar. Para cuidar de todas essas doenças, o agente de zoonoses pede conselhos aos veterinários do CCZ. Toby hoje pesa mais de 60 quilos.
Só chegou à casa de Marcos bonita e saudável a vira-lata Nina, que tem jeitos de labrador bege claro. Ela foi herdada de um amigo que foi morar fora do país. Poupar um cão de sentir-se abandonado também é um bom motivo para adotar. Marcos tinha até se convencido a não levar nenhum outro animal para casa pra não sobrecarregar o orçamento familiar, mas há quatro meses achou uma filhote passando fome... "Fazer o quê?", diz Marcos escondendo um sorriso. O que é mais um latido na hora de distribuir a ração, sete da noite em ponto? Chamou-a de Maira.
Um comentário:
QUE LINDO! AINDA BEM QUE EXISTEM SERES QUE PODEM SER, REALMENTE, CHAMADOS DE HUMANOS. ESSE É UM GRANDE EXEMPLO A SER SEGUIDO! A MAIORIA DAS PESSOAS SE COMOVE COM CRIANÇAS, OU IDOSOS, ABANDONADOS; MAS, COM RELAÇÃO AOS ANIMAIS A HISTÓRIA É DIFERENTE. QUE BOM TERMOS EXCEÇÕES! LINDA MATÉRIA. BEIJOS.
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